CinemAnálise


“ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS” 
História para doido nenhum botar defeito


Não deve ser por acaso que a nova edição do clássico da literatura infantil "Alice no país das maravilhas", publicado pela Cosac Naify em duas versões, na semana de seu lançamento estava exposta, na seção de livros adultos. Há muito tempo filósofos, psicólogos e educadores vêm se dedicando a desvendar aspectos da obra. Ao longo de todo o texto é possível encontrar referências simbólicas que remetem ao universo psíquico.

A história do livro, que começa com uma menina que cai em um buraco, acena para um ritual, para a entrada em uma outra dimensão. O autor busca referências no mundo dos sonhos para deixar vir à tona a insanidade dos personagens. A todo o momento, a protagonista Alice(e também o leitor) se confronta com uma lógica muito particular, como a do inconsciente, na qual a razão é tomada, invadida e superada. Nesse sentido, há um trecho especialmente curioso:

– Mas eu não quero ir para o meio de gente maluca – observou Alice.
– Ah, não adianta nada você querer ou não – disse o Gato. – Nós somos todos loucos
por aqui. Eu sou louco. Você é louca.
– E como é que você sabe que eu sou louca?
– Bem, deve ser – disse o Gato – ou então você não teria vindo parar aqui.

O filme que está em cartaz nos cinemas difere muito da obra original de Lewis Carroll, pois no filme Alice é convocada para salvar o mundo da fantasia dominado pela Rainha de Copas e entregar o mundo para a Princesa Branca. Mesmo neste filme também é possível visualizar a lógica do inconsciente e da loucura em diferentes partes, como nesse abaixo antes da batalha final:

- Eu queria acordar - disse Alice
- Ainda acredita que está sonhando, Alice? – perguntou o Chapeleiro
- Claro! Tudo isso vem da minha mente...
- Isso significa que não existo - disse cabisbaixo o Chapeleiro.
- Infelizmente sim, isso é fruto da minha imaginação – disse Alice – Eu sonhava com alguém que era meio louco.
- Mas então você teria que ser meio louca para sonhar comigo – Replicou o Chapeleiro
- Então devo ser... Vou sentir sua falta quando acordar.

No mundo da fantasia, povoado por criaturas inusitadas, a gama de esquisitices (e possíveis patologias) também é vasta. A Rainha apresenta um quadro de narcisismo exacerbado, ausência de compaixão e de empatia, além de tendência a comportamento violento. A Lebre e o Chapeleiro, por exemplo, parecem viver um uma loucura compartilhada (folie à deux): têm vínculo emocional forte e comungam crenças delirantes, principalmente em relação ao tempo (ambos crêem que são sempre 6 horas).. O Coelho Branco tem indícios de euforia e transtorno de ansiedade. O Albatroz sofre de narcolepsia. A centopéia é dependente de alucinógenos.

Como diz o ditado, “nada de perto parece normal” serve bem depois dessa análise dos personagens criados para o mundo dos sonhos e da fantasia. Eu prefiro dizer mundo da loucura. E você?


Fonte: Revista Viver mente e Cérebro: edição 204 - Janeiro 2010


Publicado Por Patricia para Psicodiálogos



 

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